domingo, 6 de janeiro de 2013

O olhar de Jesus



A multidão gritava enfurecida. O sol queimava o chão sem piedade. Aos tropeços, cambaleante, um homem trocava os passos com dificuldade, levando sobre si um madeiro. Ele carregava o instrumento de seu suplício.
       Em silêncio, ouvia os gritos de chacota e zombaria. Em silêncio, continuava pelo caminho que o levaria à extrema dor.
       Apesar de desfigurado por socos, de ter suas carnes rasgadas pelo chicote voraz de seus algozes cruéis, o seu semblante transmitia serenidade, transmitia amor. Não o amor dos homens, mas o amor que vem de Deus.
       Ele não reclamava. Não tentava fugir do martírio injusto que lhe estavam impondo. Vez por outra olhava para a multidão que o seguia como que buscasse algo ou mais precisamente alguém.
       Tropeçando no chão acidentado, seguia em frente, sempre em frente, embora seus músculos quase já não respondessem à sua vontade.
       Que será que aquele homem procurava na multidão que o torturava e o seguia com galhofa? Que será que buscava naquele povo que o havia trocado por um bandido chamado Barrabás? Será que ele queria encontrar naquela multidão algo que o deixasse pelo menos um pouco reconfortado, mesmo sabendo que apesar de ter sido considerado inocente, a sua morte foi exigida no tribunal de Pilatos?
     Será que procurava alguns daqueles leprosos que havia curado há poucos dias? Será que estaria ali, pelo menos aquele que, eufórico, lembrou-se de agradecer a cura?
     O que aquele homem buscava naquela multidão, já que insistia em olhar para ela sempre que sua vista, ocasionalmente, ficava menos turva pelo sangue que lhe escorria pela face, descendo de sua cabeça coroada por espinhos?
       A verdade é que ele estava buscando alguma coisa, alguém, talvez...
       Ele já havia divisado sua própria mãe entre algumas mulheres que choravam, mas persistia na busca de alguém...
      O sol ficava mais ardente, o caminhar mais difícil, e, pela terceira vez, seus joelhos não suportaram o peso da cruz. Seus algozes, temendo que a fadiga daquele homem lhes roubasse a satisfação satânica de vê-lo pendurado na cruz, obrigaram Simão, um cireneu, a ajudá-lo a erguer-se.
       Mais uma vez seus olhos buscaram a multidão, porém seu olhar foi mais longe. Será que reconheceu distante dali, o homem que lhe havia jurado fidelidade, o mesmo que, na noite anterior o havia negado por três vezes? Nessa noite, quando o seu olhar encontrou aquele olhar, alegrou-se e teve mais forças para aceitar aquele julgamento. Pedro sentiu nos olhos daquele homem a verdade de sua vida. Sentiu naquele momento, por aquele olhar, que dali para frente, o pacto de lhe ser fiel e de servi-Lo, seria cumprido. Pedro, daquele instante em diante, realmente punha à disposição de Deus a sua vida inteira. Nesse momento, o amor que Jesus tinha pelo homem que criara, salvou mais uma vida.
     Ainda hoje, Jesus Cristo, o filho de Deus, olha a multidão dos homens e, mais ao longe, busca alguém. Ele continua tentando resgatar aqueles que criou com tanto amor. Estás olhando de longe para Ele? Será que em algum momento de tua vida, tu também não fizeste um pacto com esse Deus que carregou a nossa cruz? Não serás tu o “Pedro” que Ele está buscando hoje?
      Lucas, o “Médico Amado”, nos relata em seu evangelho que, após aquele olhar de Jesus, Pedro se retirou dali e “chorou amargamente”. Com certeza reconheceu em Jesus, filho de Deus, aquele que veio trazer a salvação para este mundo de pessoas que, assim como ele, o haviam negado.
      Pedro reconheceu seu grande erro e o corrigiu a tempo. Qual é o teu erro, irmão?
     Após aquele olhar, Pedro arrependeu-se e chorou, mas Jesus continuou carregando a cruz até o calvário e, do alto do madeiro, pôde olhar mais longe ainda, para um maior número de pessoas e oferecer-lhes o olhar que nunca foi só de Pedro.
Pr. Antonio Jorge

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