Amanhecia. Ainda cheio de curiosidade
pelo novo dia, o sol levantava-se vagarosamente. Com raios ainda criança,
alegrou-se aquecendo Jesus que caminhava arrastando, em volta de si, grande
multidão. Todos queriam estar o mais perto possível dele.
Com os pés
parcialmente mergulhados nas águas do Mar, seguia em frente como não se
importasse com nada à sua volta. Apenas andava com olhar determinado,
procurando divisar, ao longe, alguns pescadores que trabalhavam na praia.
A imagem que
procurava alcançar estava agora bem nítida diante de seus olhos. Dois barcos
puxados sobre a areia repousavam inertes. Os pescadores, após uma noite inteira
de trabalho estéril, lavavam cuidadosamente as redes molhadas, maltratadas pelo
lixo que lhes substituía o peixe.
Aproximou-se
de um deles. Não sorria, mas sua face transmitia paz, a paz que emana de um
amor ágape.
Sem dizer uma só palavra, mas atendendo
ao pedido de Jesus, Simão, o pescador abordado, arrastou seu barco ao mar e
afastou-o, lentamente, um pouco da praia.
Sentado na
popa da embarcação Jesus começou a ensinar de forma compassada, com
indiscutível autoridade sobre o reino de Deus. Não foi um discurso longo. Não
exibiu um palavreado para doutos. Usou como palavras sementes de amor, de um
amor verdadeiro, sólido, imaculado...
Eu estava lá.
Ouvi cada palavra que foi dita. Transbordou-me o coração, a alma, meu ser por
inteiro. Queria que aquele momento nunca houvesse acabado.
Quando voltou
à praia, tudo se fez novo. Meu coração, em brasa ardente superaquecida, queria
mais. Queria eu me debruçar aos seus pés e dizer-lhe que já o reconhecia como
Senhor, como Messias, como o próprio Filho de Deus. Que acreditava ser Ele o
salvador da humanidade.
Vi quando se
dirigiu a Simão. Pude ouvir quando o mandou voltar a pescar... Jogar as redes
ao largo... Foi num impulso, que lhe era peculiar, que o pescador revidou
àquelas palavras, não mais com dúvidas, e sim justificando as suas habilidades
de pescador:
–– Senhor, somos profissionais, trabalhamos por toda a
noite, não somos amadores da pesca, é com esse ofício que sustentamos nossas
famílias, se não pegamos nada é porque não havia peixes ali, a maré nos era
propícia, mas o fracasso, por vezes, acontece. Porém, depois de ouvir teus
ensinamentos e acreditar neles, pois sei que são verdadeiros, amparado pela tua
palavra, lançarei novamente as redes.
O barco de
Simão voltou ao mar. A multidão cochichava entre si. Mesmo depois dos
princípios recebidos, alguns ainda duvidavam da sua autoridade, do resultado de
tal pescaria. Muitos queriam “ver para crer”.
Não foi
preciso o barco se afastar muito. A rede foi lançada obedecendo à Palavra de
Jesus. Ainda guardo nos ouvidos os gritos de
Simão pedindo ajuda. Tantos eram os peixes que as redes ameaçavam romper-se. A
iminência de naufragar fez com que pedisse ajuda ao outro barco que ficara em
terra. Então, amedrontados, cansados, ambos sobejando peixes, retornaram à
praia.
Simão dirigiu-se a Jesus. Caiu de
joelhos a seus pés. Com o rosto no chão, procurando livrar-se da areia que lhe
grudava até mesmo na boca, abriu o coração:
–– Senhor...
Sou pecador... Sou homem que não tem a vida tão íntegra como desejava... São
inúmeras falhas que carrego e das quais me envergonho... Não sou digno de andar
ao teu lado... Retira-te de mim... Como poderia eu servir-te?
Tiago e João,
filhos de Zebedeu, sócios de Simão, ali presentes, estavam extasiados. Nunca
haviam visto aquele companheiro, intempestivo, viril, às vezes até arrogante,
humilhar-se aos pés de alguém. Surpresa maior tiveram quando Jesus lhe disse:
“Não temas; doravante serás pescador de homens”.
Fiquei parado
ali por mais uns instantes. O vento frio que me soprava no rosto, umedecido por
algumas gotas d’água que o mar espargia, forçou-me a uma reflexão sobre aquele
amanhecer.
Compreendi
muitas coisas naquele momento. Porque Jesus só falou à multidão depois de
caminhar muito na praia? Agora estava bem claro. O Reino de Deus é para todos
que ouvem a sua Palavra. Ele precisava alcançar aqueles pescadores. Ninguém
pode ficar de fora.
No meu coração
veio a certeza de que quando alguém age de acordo com a Palavra de Deus, as
bênçãos, como os peixes, são tantas que somos obrigados a chamar alguém para
repartir.
Aprendi, ainda
ali ao lado de Jesus, que quando lançamos as redes de nossas esperanças no mar
da vida, sem orientação divina, tudo o que nos resta é levar o lixo que
inevitavelmente apanharemos até a praia do desespero, da tristeza, da
decepção...
Sei que sou
pecador... Sei que tenho falhas como Simão... Mas sei também que Jesus está
vindo ao meu encontro... Serei pescador de almas.
Texto do livro “EU ESTAVA LÁ” do Pr. Antonio Jorge.
Pela fé podemos nos transportar até Jesus.
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