domingo, 13 de janeiro de 2013

A pesca milagrosa



Amanhecia. Ainda cheio de curiosidade pelo novo dia, o sol levantava-se vagarosamente. Com raios ainda criança, alegrou-se aquecendo Jesus que caminhava arrastando, em volta de si, grande multidão. Todos queriam estar o mais perto possível dele.
        Com os pés parcialmente mergulhados nas águas do Mar, seguia em frente como não se importasse com nada à sua volta. Apenas andava com olhar determinado, procurando divisar, ao longe, alguns pescadores que trabalhavam na praia.
        A imagem que procurava alcançar estava agora bem nítida diante de seus olhos. Dois barcos puxados sobre a areia repousavam inertes. Os pescadores, após uma noite inteira de trabalho estéril, lavavam cuidadosamente as redes molhadas, maltratadas pelo lixo que lhes substituía o peixe.
       Aproximou-se de um deles. Não sorria, mas sua face transmitia paz, a paz que emana de um amor ágape.
Sem dizer uma só palavra, mas atendendo ao pedido de Jesus, Simão, o pescador abordado, arrastou seu barco ao mar e afastou-o, lentamente, um pouco da praia.
         Sentado na popa da embarcação Jesus começou a ensinar de forma compassada, com indiscutível autoridade sobre o reino de Deus. Não foi um discurso longo. Não exibiu um palavreado para doutos. Usou como palavras sementes de amor, de um amor verdadeiro, sólido, imaculado...
         Eu estava lá. Ouvi cada palavra que foi dita. Transbordou-me o coração, a alma, meu ser por inteiro. Queria que aquele momento nunca houvesse acabado.
     Quando voltou à praia, tudo se fez novo. Meu coração, em brasa ardente superaquecida, queria mais. Queria eu me debruçar aos seus pés e dizer-lhe que já o reconhecia como Senhor, como Messias, como o próprio Filho de Deus. Que acreditava ser Ele o salvador da humanidade.
       Vi quando se dirigiu a Simão. Pude ouvir quando o mandou voltar a pescar... Jogar as redes ao largo... Foi num impulso, que lhe era peculiar, que o pescador revidou àquelas palavras, não mais com dúvidas, e sim justificando as suas habilidades de pescador:
     –– Senhor, somos profissionais, trabalhamos por toda a noite, não somos amadores da pesca, é com esse ofício que sustentamos nossas famílias, se não pegamos nada é porque não havia peixes ali, a maré nos era propícia, mas o fracasso, por vezes, acontece. Porém, depois de ouvir teus ensinamentos e acreditar neles, pois sei que são verdadeiros, amparado pela tua palavra, lançarei novamente as redes.
         O barco de Simão voltou ao mar. A multidão cochichava entre si. Mesmo depois dos princípios recebidos, alguns ainda duvidavam da sua autoridade, do resultado de tal pescaria. Muitos queriam “ver para crer”.
       Não foi preciso o barco se afastar muito. A rede foi lançada obedecendo à Palavra de Jesus. Ainda guardo nos ouvidos os gritos de Simão pedindo ajuda. Tantos eram os peixes que as redes ameaçavam romper-se. A iminência de naufragar fez com que pedisse ajuda ao outro barco que ficara em terra. Então, amedrontados, cansados, ambos sobejando peixes, retornaram à praia.
Simão dirigiu-se a Jesus. Caiu de joelhos a seus pés. Com o rosto no chão, procurando livrar-se da areia que lhe grudava até mesmo na boca, abriu o coração:
         –– Senhor... Sou pecador... Sou homem que não tem a vida tão íntegra como desejava... São inúmeras falhas que carrego e das quais me envergonho... Não sou digno de andar ao teu lado... Retira-te de mim... Como poderia eu servir-te?
      Tiago e João, filhos de Zebedeu, sócios de Simão, ali presentes, estavam extasiados. Nunca haviam visto aquele companheiro, intempestivo, viril, às vezes até arrogante, humilhar-se aos pés de alguém. Surpresa maior tiveram quando Jesus lhe disse: “Não temas; doravante serás pescador de homens”.
         Fiquei parado ali por mais uns instantes. O vento frio que me soprava no rosto, umedecido por algumas gotas d’água que o mar espargia, forçou-me a uma reflexão sobre aquele amanhecer.
         Compreendi muitas coisas naquele momento. Porque Jesus só falou à multidão depois de caminhar muito na praia? Agora estava bem claro. O Reino de Deus é para todos que ouvem a sua Palavra. Ele precisava alcançar aqueles pescadores. Ninguém pode ficar de fora.
         No meu coração veio a certeza de que quando alguém age de acordo com a Palavra de Deus, as bênçãos, como os peixes, são tantas que somos obrigados a chamar alguém para repartir.
         Aprendi, ainda ali ao lado de Jesus, que quando lançamos as redes de nossas esperanças no mar da vida, sem orientação divina, tudo o que nos resta é levar o lixo que inevitavelmente apanharemos até a praia do desespero, da tristeza, da decepção...
         Sei que sou pecador... Sei que tenho falhas como Simão... Mas sei também que Jesus está vindo ao meu encontro... Serei pescador de almas.

Texto do livro “EU ESTAVA LÁ” do Pr. Antonio Jorge.
Pela fé podemos nos transportar até Jesus.

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