sábado, 10 de novembro de 2012

A viúva de Naim


(Lc 7:11-17)
         Passo a passo Jesus seguia em direção à cidade. A multidão, sempre presente, acompanhava-O trôpega fustigada pela dificuldade que o cansaço impunha. Ninguém, mesmo assim, perdia algum de seus movimentos.
      É bem possível que, pela sua testa bronzeada, luzidia, castigada pelo sol desapiedado, algumas gotas de suor lhe emoldurassem o rosto. No momento, apenas caminhava... Caminhava movido pelo amor... Pela certeza de estar obedecendo às ordens do Pai Celeste.
         Ao longe, um cortejo fúnebre pausadamente atravessava a porta da cidade. Podia-se ouvir uma ladainha de tristezas entoada, entre doridos prantos e soluços, em penhor do desespero, banhado pela desesperança.
         A poeira levantada delimitava bem aquela comitiva sofrida, mas deixava divisar, agora mais próxima, a silhueta encurvada de uma mulher, coberta de trapos e cinza, abraçando um caixão humilde sustentado pelas mãos calejadas de alguns romeiros que compunham a procissão.
         Jesus apertou os passos naquela direção. Queria chegar mais próximo o quanto antes. Castigavam seus ouvidos o choro e as lamentações daquela mulher que se derramava em amarguras. Ele se fez compadecido com tal aflição.
         A multidão que o seguia não entendeu bem o motivo pelo qual Jesus caminhou mais depressa em direção àquele enterro que deixava a cidade. Que lhe passava pela cabeça?
         O grupo que O seguia era heterogêneo não só em relação às etnias, mas também quanto ao objetivo. Uns queriam apenas ver prodígios... Outros precisavam dos milagres... Outros mais ainda queriam certificar-se de quem era realmente Jesus. Havia aqueles que, mandados pelos sacerdotes, procuravam acusá-Lo de blasfêmia para O matarem. É bem verdade que também estavam ali aqueles que já O reconheciam como o Messias enviado por Deus.
        As duas cortes se encontraram. Jesus adiantou-se. Parou diante da mulher. Olhou-a nos olhos. Atônitos, os que carregavam o caixão ouviram-no dizer à mulher: “Não chores”.
         Como não chorar? Como suportaria aquela viúva ver o filho único dentro de um esquife? Ali estavam todas as suas esperanças e sonhos. Como as necessidades seriam supridas agora sem seu arrimo? Restava-lhe apenas a escravidão.
        Os presentes olhavam para o caixão. Viam apenas um defunto, um corpo sem vida que não podia nem ser tocado, pois que quem ousasse fazê-lo certamente se tornaria impuro.
         Aquela mulher já se conformara com seu mal. Caminhava para o cemitério com o intuito de sepultar sonhos, esperanças e a vida que lhe restava.
         Eu estava lá seguindo Jesus. Entre a multidão postei-me bem perto daquela mulher. Ela olhava para o filho inerte. É bem provável que a imagem dele lhe parecesse distorcida, pois a via através de lágrimas.
         Por um momento pensei em mim mesmo. Onde estão meus sonhos? Minhas esperanças? Meus planos de vida? Em que caixão repousa meu coração? Estou caminhando para um cemitério de sonhos tal qual essa viúva? Onde estão meus objetivos?
         A grande maioria ali presente não via mais solução possível para aquela mulher. Queriam seguir em frente com o féretro. Afinal, que poderia o Messias fazer ali diante da realidade da morte?
         Ele chegou mais perto ainda do caixão. Tocou-o. Todos pararam. Quem era aquele homem, senão um estranho, para interromper o enterro? O que Ele queria com aquela mulher?
Pude ver, claramente, a fisionomia de deboche e descrença de alguns, quando Ele, dirigindo-se ao morto, disse: “Moço, eu te ordeno, levanta-te”.
       Por um breve momento houve expectativa. Por um momento mais abreviado ainda, os que cercavam o ataúde viram o moço, que estivera morto, voltar à vida. Num lampejo de tempo, aquele rosto fatigado, esmaecido da viúva, que traduzia o sofrimento da certeza de um fim impiedoso, transformou-se no sorriso que manifestava a magnificência, a aurora de uma alma feliz.
      Vi quando Jesus devolveu o moço, agora vivo, para aquela senhora. Vi o semblante, o olhar de agradecimento àquele que palavras não conseguem proclamar. Vi amor em ambas as partes. Jesus devolvendo esperanças... a mulher recebendo de volta o dom da vida.
         Entendi o momento vivido ali. Jesus está sempre vindo ao nosso encontro. Ele se apressa, quer nos livrar das amarguras, quer resgatar nossos sonhos, nossos ideais.
        Quando colocamos a vida em um caixão dispostos a enterrá-la, por julgarmos que não existe mais salvação, que não temos mais nenhuma opção possível, que tudo já se consumou e só nos resta esvaziá-la junto com nossas cinzas, o Senhor olha dentro desse caixão e não vê uma vida destroçada, não vê o fim, mas um renovo, uma nova oportunidade, o início de uma jornada vitoriosa, agora mais perto dele.
      Assim como restituiu o filho único da viúva da cidade de Naim, Ele quer sarar nossas feridas... Dar-nos vida nova em abundância.
Deixemos que Jesus pare o enterro de nossos propósitos. Ele está bem perto de nós. Quer nos dar uma nova chance.
Texto retirado do livro do Pr. Antônio Jorge “Eu estava lá”

Nenhum comentário:

Postar um comentário