(Lc
7:11-17)
Passo a passo
Jesus seguia em direção à cidade. A multidão, sempre presente, acompanhava-O
trôpega fustigada pela dificuldade que o cansaço impunha. Ninguém, mesmo assim,
perdia algum de seus movimentos.
É bem possível
que, pela sua testa bronzeada, luzidia, castigada pelo sol desapiedado, algumas
gotas de suor lhe emoldurassem o rosto. No momento, apenas caminhava...
Caminhava movido pelo amor... Pela certeza de estar obedecendo às ordens do Pai
Celeste.
Ao longe, um
cortejo fúnebre pausadamente atravessava a porta da cidade. Podia-se ouvir uma
ladainha de tristezas entoada, entre doridos prantos e soluços, em penhor do
desespero, banhado pela desesperança.
A poeira
levantada delimitava bem aquela comitiva sofrida, mas deixava divisar, agora
mais próxima, a silhueta encurvada de uma mulher, coberta de trapos e cinza,
abraçando um caixão humilde sustentado pelas mãos calejadas de alguns romeiros
que compunham a procissão.
Jesus apertou
os passos naquela direção. Queria chegar mais próximo o quanto antes.
Castigavam seus ouvidos o choro e as lamentações daquela mulher que se
derramava em amarguras. Ele se fez compadecido com tal aflição.
A multidão que
o seguia não entendeu bem o motivo pelo qual Jesus caminhou mais depressa em
direção àquele enterro que deixava a cidade. Que lhe passava pela cabeça?
O grupo que O
seguia era heterogêneo não só em relação às etnias, mas também quanto ao
objetivo. Uns queriam apenas ver prodígios... Outros precisavam dos milagres...
Outros mais ainda queriam certificar-se de quem era realmente Jesus. Havia
aqueles que, mandados pelos sacerdotes, procuravam acusá-Lo de blasfêmia para O
matarem. É bem verdade que também estavam ali aqueles que já O reconheciam como
o Messias enviado por Deus.
As duas cortes
se encontraram. Jesus adiantou-se. Parou diante da mulher. Olhou-a nos olhos.
Atônitos, os que carregavam o caixão ouviram-no dizer à mulher: “Não chores”.
Como não
chorar? Como suportaria aquela viúva ver o filho único dentro de um esquife?
Ali estavam todas as suas esperanças e sonhos. Como as necessidades seriam
supridas agora sem seu arrimo? Restava-lhe apenas a escravidão.
Os presentes
olhavam para o caixão. Viam apenas um defunto, um corpo sem vida que não podia
nem ser tocado, pois que quem ousasse fazê-lo certamente se tornaria impuro.
Aquela mulher
já se conformara com seu mal. Caminhava para o cemitério com o intuito de
sepultar sonhos, esperanças e a vida que lhe restava.
Eu estava lá
seguindo Jesus. Entre a multidão postei-me bem perto daquela mulher. Ela olhava
para o filho inerte. É bem provável que a imagem dele lhe parecesse distorcida,
pois a via através de lágrimas.
Por um momento
pensei em mim mesmo. Onde estão meus sonhos? Minhas esperanças? Meus planos de vida?
Em que caixão repousa meu coração? Estou caminhando para um cemitério de sonhos
tal qual essa viúva? Onde estão meus objetivos?
A grande
maioria ali presente não via mais solução possível para aquela mulher. Queriam
seguir em frente com o féretro. Afinal, que poderia o Messias fazer ali diante
da realidade da morte?
Ele chegou
mais perto ainda do caixão. Tocou-o. Todos pararam. Quem era aquele homem,
senão um estranho, para interromper o enterro? O que Ele queria com aquela
mulher?
Pude ver, claramente, a fisionomia de
deboche e descrença de alguns, quando Ele, dirigindo-se ao morto, disse: “Moço, eu te ordeno, levanta-te”.
Por um breve
momento houve expectativa. Por um momento mais abreviado ainda, os que cercavam
o ataúde viram o moço, que estivera morto, voltar à vida. Num lampejo de tempo,
aquele rosto fatigado, esmaecido da viúva, que traduzia o sofrimento da certeza
de um fim impiedoso, transformou-se no sorriso que manifestava a magnificência,
a aurora de uma alma feliz.
Vi quando
Jesus devolveu o moço, agora vivo, para aquela senhora. Vi o semblante, o olhar
de agradecimento àquele que palavras não conseguem proclamar. Vi amor em ambas
as partes. Jesus devolvendo esperanças... a mulher recebendo de volta o dom da
vida.
Entendi o
momento vivido ali. Jesus está sempre vindo ao nosso encontro. Ele se apressa,
quer nos livrar das amarguras, quer resgatar nossos sonhos, nossos ideais.
Quando
colocamos a vida em um caixão dispostos a enterrá-la, por julgarmos que não
existe mais salvação, que não temos mais nenhuma opção possível, que tudo já se
consumou e só nos resta esvaziá-la junto com nossas cinzas, o Senhor olha
dentro desse caixão e não vê uma vida destroçada, não vê o fim, mas um renovo,
uma nova oportunidade, o início de uma jornada vitoriosa, agora mais perto
dele.
Assim como
restituiu o filho único da viúva da cidade de Naim, Ele quer sarar nossas
feridas... Dar-nos vida nova em abundância.
Deixemos que Jesus pare o enterro de
nossos propósitos. Ele está bem perto de nós. Quer nos dar uma nova chance.
Texto retirado do livro do Pr. Antônio
Jorge “Eu estava lá”
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