O
bloco cirúrgico está mais frio do que nos outros dias. A cirurgia já se arrasta
por quase três horas. A paciente, que estivera respirando através de aparelhos
de anestesia, começa a acordar. Lentamente abre os olhos e tenta inteirar-se do
ambiente. Afagando-lhe o rosto com as mãos, pergunto, próximo ao seu ouvido, se
tudo está bem. Sonolenta, sacode a cabeça afirmativamente tentando esboçar um
sorriso. Já são quase onze horas da manhã e, em outro hospital, eu tinha
cirurgia marcada para as dez.
Saio
apressado tentando diminuir o atraso. O trânsito lento aumentou a inquietação
que se apodera de mim. Sabia que o cirurgião que estava esperando não aceitaria
qualquer desculpa. Distraído, avanço uma preferencial. Um motorista é obrigado
a fazer uma manobra brusca para evitar o acidente. É muito provável que ele
estivesse mais apressado que eu a julgar pelo palavrão e pelo gesto obsceno
feito com a mão. Não aceito a provocação e continuo dirigindo.
Chego
ao meu destino. O estacionamento está lotado. Uma volta a mais no quarteirão
seria imperdoável. Respirei fundo para aliviar o estresse e, bem mais adiante,
consegui, em uma rua transversal, vaga para estacionar o carro.
Com
passos rápidos entro no hospital. Desviando de um aglomerado de pessoas chego
ao corredor que me conduz ao consultório do cirurgião.
Bato
à porta. Entro. Em vez do olhar de reprovação e ira, surpreendeu-me, no rosto
do colega que esperava, um sorriso largo e feliz. Atônito, fiquei por uns
momentos sem entender a recepção inversa da esperada.
Estendendo-me
a mão para um cumprimento, disse-me sorrindo como se eu tivesse chegado bem
antes da hora marcada:
– Estás lembrando deste
paciente?
Ali no consultório estava
uma senhora humilde, sentada em uma cadeira com uma criança no colo. Fixei o
olhar no menino de cabelos negros, lisos, pele morena, olhos salientes,
lacrimejantes, rosto magro e, a julgar pela boca entreaberta deixando
parcialmente a língua exposta, diria que estava sorrindo.
– Sim, lembro-me do menino.
Já o anestesiei várias vezes – respondi ainda sem entender o porquê de toda
aquela alegria do colega.
Era
uma criança que amargava as sequelas de uma paralisia cerebral em consequência
de um parto difícil e prolongado. Tinha oito anos de idade. Fisicamente
aparentava uns seis. Esses pacientes ficam com os membros espásticos, tensos e
sem controle motor porém, alguns deles, mantêm um certo grau de inteligência
preservado, dependendo da área afetada do cérebro.
O cirurgião, colocando uma das mãos em meu ombro,
disse:
– Quero te mostrar o resultado
das cirurgias que fizemos neste moleque! – Em seguida, dirigiu a palavra à mãe:
– Coloque o menino ali.
Quando
vi aquela criança, encostada na parede, de pé, tive a certeza de que as mãos de
Deus haviam segurado o bisturi daquele médico nas várias cirurgias anteriores.
Era quase impossível acreditar que aquele menino, magro, pernas finas e
retorcidas sobre as coxas, e que nunca havia andado na vida, estivesse ali, de
pé, mesmo que apoiado.
Quando,
ao comando do médico, o menino, cambaleando, de braços abertos, caminhou em
minha direção, ajoelhei-me para receber aquele abraço amigo... e o abençoei em
nome de Jesus.
Com a
minha alegria, pude entender a alegria do cirurgião.
Durante os poucos passos daquela jornada, seus olhos
meninos sorriam felizes. Mesmo arrastando os pés, aquele caminhar significava a
recompensa pelo esforço daquela mãe, pela força de vontade do menino, pelo
acreditar no que se faz, na alegria por um ideal alcançado. Tive a certeza
então que, além de nos usar como médicos, naquela recuperação, Deus usou seu
próprio coração.
Todos
os dias Deus nos mostra seu amor e confirma que é fiel à sua Palavra. Um dia
Ele disse: “ Pedi e dar-se-vos-á”. Aquela mãe com certeza pediu e recebeu a
recompensa por acreditar, por ter fé.
O
que precisas pedir para Deus? O que está te faltando neste momento? Seja lá o
que for, pede com fé, pede com amor, pede com o coração ajoelhado diante do
coração de Deus e receberás. Não precisas gritar porque esse Deus está com os
ouvidos inclinados para te escutar. Lembra-te apenas que, de ti, Deus quer
tão-somente amor, palavras de fé, louvor e adoração.
Pede
para Deus que te faça andar, mesmo tropeçando...mas que seja pelos Seus
caminhos.
Pr. Ajorge
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