terça-feira, 13 de novembro de 2012

A Recompensa




            O bloco cirúrgico está mais frio do que nos outros dias. A cirurgia já se arrasta por quase três horas. A paciente, que estivera respirando através de aparelhos de anestesia, começa a acordar. Lentamente abre os olhos e tenta inteirar-se do ambiente. Afagando-lhe o rosto com as mãos, pergunto, próximo ao seu ouvido, se tudo está bem. Sonolenta, sacode a cabeça afirmativamente tentando esboçar um sorriso. Já são quase onze horas da manhã e, em outro hospital, eu tinha cirurgia marcada para as dez.
            Saio apressado tentando diminuir o atraso. O trânsito lento aumentou a inquietação que se apodera de mim. Sabia que o cirurgião que estava esperando não aceitaria qualquer desculpa. Distraído, avanço uma preferencial. Um motorista é obrigado a fazer uma manobra brusca para evitar o acidente. É muito provável que ele estivesse mais apressado que eu a julgar pelo palavrão e pelo gesto obsceno feito com a mão. Não aceito a provocação e continuo dirigindo.
            Chego ao meu destino. O estacionamento está lotado. Uma volta a mais no quarteirão seria imperdoável. Respirei fundo para aliviar o estresse e, bem mais adiante, consegui, em uma rua transversal, vaga para estacionar o carro.
            Com passos rápidos entro no hospital. Desviando de um aglomerado de pessoas chego ao corredor que me conduz ao consultório do cirurgião.
            Bato à porta. Entro. Em vez do olhar de reprovação e ira, surpreendeu-me, no rosto do colega que esperava, um sorriso largo e feliz. Atônito, fiquei por uns momentos sem entender a recepção inversa da esperada.
            Estendendo-me a mão para um cumprimento, disse-me sorrindo como se eu tivesse chegado bem antes da hora marcada:
– Estás lembrando deste paciente?
Ali no consultório estava uma senhora humilde, sentada em uma cadeira com uma criança no colo. Fixei o olhar no menino de cabelos negros, lisos, pele morena, olhos salientes, lacrimejantes, rosto magro e, a julgar pela boca entreaberta deixando parcialmente a língua exposta, diria que estava sorrindo.
– Sim, lembro-me do menino. Já o anestesiei várias vezes – respondi ainda sem entender o porquê de toda aquela alegria do colega.
            Era uma criança que amargava as sequelas de uma paralisia cerebral em consequência de um parto difícil e prolongado. Tinha oito anos de idade. Fisicamente aparentava uns seis. Esses pacientes ficam com os membros espásticos, tensos e sem controle motor porém, alguns deles, mantêm um certo grau de inteligência preservado, dependendo da área afetada do cérebro.
O cirurgião, colocando uma das mãos em meu ombro, disse:
– Quero te mostrar o resultado das cirurgias que fizemos neste moleque! – Em seguida, dirigiu a palavra à mãe:
– Coloque o menino ali.
            Quando vi aquela criança, encostada na parede, de pé, tive a certeza de que as mãos de Deus haviam segurado o bisturi daquele médico nas várias cirurgias anteriores. Era quase impossível acreditar que aquele menino, magro, pernas finas e retorcidas sobre as coxas, e que nunca havia andado na vida, estivesse ali, de pé, mesmo que apoiado.
            Quando, ao comando do médico, o menino, cambaleando, de braços abertos, caminhou em minha direção, ajoelhei-me para receber aquele abraço amigo... e o abençoei em nome de Jesus.
            Com a minha alegria, pude entender a alegria do cirurgião.
            Durante os poucos passos daquela jornada, seus olhos meninos sorriam felizes. Mesmo arrastando os pés, aquele caminhar significava a recompensa pelo esforço daquela mãe, pela força de vontade do menino, pelo acreditar no que se faz, na alegria por um ideal alcançado. Tive a certeza então que, além de nos usar como médicos, naquela recuperação, Deus usou seu próprio coração.
            Todos os dias Deus nos mostra seu amor e confirma que é fiel à sua Palavra. Um dia Ele disse: “ Pedi e dar-se-vos-á”. Aquela mãe com certeza pediu e recebeu a recompensa por acreditar, por ter fé.
            O que precisas pedir para Deus? O que está te faltando neste momento? Seja lá o que for, pede com fé, pede com amor, pede com o coração ajoelhado diante do coração de Deus e receberás. Não precisas gritar porque esse Deus está com os ouvidos inclinados para te escutar. Lembra-te apenas que, de ti, Deus quer tão-somente amor, palavras de fé, louvor e adoração.
            Pede para Deus que te faça andar, mesmo tropeçando...mas que seja pelos Seus caminhos.
Pr. Ajorge

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