domingo, 23 de dezembro de 2012

A lágrima


         O velho, trôpego, andou em direção a pouca luz que atravessava a janela. O vento que soprava leve sacodindo a cortina branca, já um tanto empoeirada, acariciando-o, visitou carinhosamente cada ruga de seu rosto macilento.
         Com as mãos trêmulas, magras, quase sem forças apoiou-se no parapeito. Os olhos, já com o brilho roubado pelo tempo, procuram distinguir a paisagem melancólica que se desenhava no horizonte.
         Não lhe viu nítido o rosto, mas percebeu e escutou o som do sorriso de uma criança que passava rotineiramente, às pressas, por aquele local, sempre às mesmas horas. Tentou esboçar uma reação de alegria. Esse menino, que todos os dias sobrevinha, o chamava carinhosamente de vô.
         Não era seu neto de sangue, mas por tantas vezes ter sido chamado assim, o guardara como tal no coração.
         Vez por outra o infante parava ao pé da janela e os dois trocavam palavras ligeiras. Conversavam por breves minutos até que, segurando a sacola na qual guardava os livros didáticos, partia rapidamente em direção à escola.
         O tempo passava ora se espreguiçando, ora voraz, e o menino continuava a oferecer aquele sorriso e o cumprimento que lhe fazia tão bem a alma: “Bom dia vô!”.
            Um dia, os olhos cansados do vô não viram mais os olhos alegres do menino.
            O relógio continuou insistente no seu caminhar por longos anos.
         Aquela mesma cortina branca, já bem mais empoeirada e quase aos pedaços, voltava a ser embalada talvez pela mesma brisa de tempos atrás, presenciou quando um jovem bateu à porta da casa. Sem resposta, insistiu até que ouviu o caminhar lento de alguém que já mal podia arrastar suas sandálias.
        A porta se abriu devagar... O mesmo velho estava ali não mais debruçado na janela, mas olhando firme nos olhos do visitante...
         – Vô? Lembra-se de mim?
         A resposta se deu em forma de sorriso. O abraço veio depois. Juntos, em volta de uma velha mesa de madeira, tomaram café.
         O moço falou com alegria:
      – Vô, segui os conselhos que me deu. Estudei, cursei faculdade, constituí família... Porém, voltei para lhe agradecer o que de melhor e mais importante o senhor fez por mim: ensinou-me quem é Jesus e a amá-Lo sobre todas as coisas. Obrigado.
         A porta se fechou depois que o jovem senhor saiu. Ninguém viu as lágrimas que regaram o sorriso mais feliz que aquele rosto macilento já viveu.
Pr. Ajorge

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