O
velho, trôpego, andou em direção a pouca luz que atravessava a janela. O vento
que soprava leve sacodindo a cortina branca, já um tanto empoeirada,
acariciando-o, visitou carinhosamente cada ruga de seu rosto macilento.
Com as mãos trêmulas, magras, quase sem
forças apoiou-se no parapeito. Os olhos, já com o brilho roubado pelo tempo,
procuram distinguir a paisagem melancólica que se desenhava no horizonte.
Não lhe viu nítido o rosto, mas percebeu
e escutou o som do sorriso de uma criança que passava rotineiramente, às
pressas, por aquele local, sempre às mesmas horas. Tentou esboçar uma reação de
alegria. Esse menino, que todos os dias sobrevinha, o chamava carinhosamente de
vô.
Não era seu neto de sangue, mas por
tantas vezes ter sido chamado assim, o guardara como tal no coração.
Vez por outra o infante parava ao pé da
janela e os dois trocavam palavras ligeiras. Conversavam por breves minutos até
que, segurando a sacola na qual guardava os livros didáticos, partia
rapidamente em direção à escola.
O tempo passava ora se espreguiçando,
ora voraz, e o menino continuava a oferecer aquele sorriso e o cumprimento que
lhe fazia tão bem a alma: “Bom dia vô!”.
Um dia, os olhos cansados do vô não
viram mais os olhos alegres do menino.
O relógio continuou insistente no seu
caminhar por longos anos.
Aquela mesma cortina branca, já bem
mais empoeirada e quase aos pedaços, voltava a ser embalada talvez pela mesma
brisa de tempos atrás, presenciou quando um jovem bateu à porta da casa. Sem
resposta, insistiu até que ouviu o caminhar lento de alguém que já mal podia
arrastar suas sandálias.
A porta se abriu devagar... O mesmo
velho estava ali não mais debruçado na janela, mas olhando firme nos olhos do
visitante...
– Vô? Lembra-se de mim?
A resposta se deu em forma de sorriso.
O abraço veio depois. Juntos, em volta de uma velha mesa de madeira, tomaram
café.
O moço falou com alegria:
– Vô, segui os conselhos que me deu.
Estudei, cursei faculdade, constituí família... Porém, voltei para lhe
agradecer o que de melhor e mais importante o senhor fez por mim: ensinou-me
quem é Jesus e a amá-Lo sobre todas as coisas. Obrigado.
A porta se fechou depois que o jovem
senhor saiu. Ninguém viu as lágrimas que regaram o sorriso mais feliz que
aquele rosto macilento já viveu.
Pr. Ajorge
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